25 novembro 2005

"QUE É A VIDA?"

"É bom refletir sobre isso quando se está cansado ou de saco cheio, mantendo desde logo uma distância “levemente irônica”, uma vez que o momento atual não se presta a “catarsis expressionistas”.

Em que pese isso e minha aversão às definições sistemáticas à maneira de Kant, o qual Nietzche dizia que era “um raquítico sutilizador de conceitos”, tentarei definir o que é a vida.

Há certas palavras que estão gastas, pois se usou e abusou delas e, quando algum interlocutor as emprega, uma luz amarela começa a piscar em nosso cérebro.

Também a palavra "nietzche" carrega conotações excessivas, razão pela qual talvez o mais correto seja referir-se a ele de forma indireta, como o fazia Yung quando falava no “velho cabeça de pólvora”.

Bom, o “cabeça” dizia que “nossa alienação alcança as raízes”, o que confirma minha idéia de que não são tempos “expressionistas”, porque o expressionismo é um “grito ou uivo” que chama a atenção ou se rebela contra “o assunto geral”.

Hoje não estamos para essas coisas. São muito poucas as pessoas que gritam e menos ainda os que se rebelam. Por isso, se deve evitar expressões demasiado cruas. Como é sabido, o oposto do expressionismo é o formalismo e a degradação deste último é o “maneirismo”, ou seja, estamos em um período “maneirista”, casualmente o que afirma John Berger, o velho lúcido.

Abundam as expressões polidas e alusivas. Um bom exemplo é o cinema de Tarantino, com sua dose de “violência estilizada”; um exemplo oposto seria Kusturica (1998; Leão de Prata em Veneza.NT), em especial, com “Gato negro e o gato branco”. Outro exemplo são as “delicadas dissecações” de Damien Hierst, o qual, por sua vez, administra um bar no Soho londrinense. Estamos longe do judeu Chaim Soutine que, apesar de pintar com fúria inaudita reses esquartejadas, passava dias sem comer.

Para que serve esta bosta?

Procuro demonstrar minha falta de integração ao meio local. Minhas pinturas - tendo em vista minhas tendências obsessivas - são expressionistas e algumas beiram o “borderline”. Tenho pensado em aproximar-me de uma zona menos turbulenta (”cool”), porém, quase sempre fracasso.

Bom, tudo isso vem a propósito de duas definições sobre a vida.

Sim, Senhores... Sobre a vida.

Ocorreria a alguém - exceto a um espiritualista - semelhante divagação ?
Obviamente que não ...

1) Definição de cunho pessoal:
“A vida é um leve sussurro no ouvido de um surdo”.

2) Definição de Marguerite Yourcenar:
“Um pássaro vem da noite, atravessa uma torre com um fogo dentro e retorna à noite”.

Em outra oportunidade de “spleen racional” explicarei porque dediquei este blog a Zenon, o protagonista de “Opus Nigrum”.

JL"

Fonte: blog de José Luis Parodi.

Traducao e links: Marcilio Dias dos Santos