21 abril 2008

O BURACO É MAIS EM CIMA


Entrevista al Dr. Kulisevsky


“Por ocasião do Dia Internacional do Parkinson, o Dr. Kulisevsky, Diretor do Serviço de Neurologia do USP Instituto Universitario Dexeus, Chefe da Secção de Distúrbios do Movimento do Hospital da Santa Creu i Sant Pau de Barcelona e Diretor a Área de Distúrbios do Movimento da Revista de Neurologia, respondeu algumas questões formuladas pela revista.


P. - A definição clássica da doença de Parkinson destaca seu componente motor, mas atualmente a sintomatologia não motora está sendo cada vez mais levada em consideração. Em que medida considera correto falar que a DP constitui um complexo de síndromes?

R. Cada vez fica mais claro que a doença de Parkinson, identificada clinicamente pelo seu componente motor, vem acompanhada e inclusive pode começar por sintomas de tipo não motor, que compreendem distúrbios do olfato, do sono, autonômicos e cognitivos.

P. - Entendendo que os aspectos afetivos, cognitivos e os relacionados com o sono são os mais relevantes dentre os distúrbios não motores da DP, considera-os no mesmo grau de importância que as alterações do sistema dopaminérgico?


R. - Sim, aprendemos que a dopamina é a responsável pelos sintomas motores e, em alguma medida, pelos cognitivos, mas a DP pode ser considerada como uma verdadeira degeneração multisistêmica atingindo os sistemas de neurotransmissão colinérgica, serotonérgica e noradrenérgica.

P. - Parece que os avanços na busca de novas terapias encontram-se em parte numa encruzilhada tendo em vista que os testes clínicos de moléculas, com base em modelos animais do tipo MPTP, não têm dado bons resultados. A validade dos modelos animais comumente utilizados poderia ser criticada? As deficiências dos modelos animais poderiam provir do seu enfoque no sistema dopaminérgico?

R. - Totalmente de acordo. Tendo em vista que a doença atinge mais de um sistema de neurotransmissão, é crucial contar com modelos que reproduzam melhor a evolução da mesma, combinando a lesão dopaminérgica com outras lesões reconhecidas na doença de Parkinson.

P. - Dando seqüência à pergunta anterior, há grande expectativa em torno da potencialidade das terapias de reposição celular. Acontece que a hipótese subjacente costuma tomar por base a implantação de neurônios dopaminérgicos. Considera que os resultados podem esbarrar nas mesmas dificuldades que as moléculas desenvolvidas usando modelos como o MPTP?


R. - Contamos hoje com métodos eficientes de reposição dopaminérgica, sem dúvida suscetíveis de aprimoramento. Não creio que seja um avanço crucial a reposição celular exclusivamente dopaminérgica.


P. - Se a terapia celular obtivesse êxito, embora com as restrições apontadas na pergunta anterior, poderíamos imaginar um futuro com doentes de Parkinson curados do distúrbio do movimento, porém apresentando o restante do complexo de síndromes?

R. - Totalmente de acordo.
P. - Estas abordagens da DP podem implicar que as terapêuticas convencionais sejam insuficientes e que se necessite de equipes multidisciplinares para o tratamento. O Doutor concorda com isto? Este requisito seria viável com a atual estrutura assistencial?


R. - Há que fazer as pontes que a própria doença nos indica. Não só devem aproximar-se o laboratório e a clinica melhorando a pesquisa translacional, como é fundamental a colaboração clinica multidisciplinar (Neurologia, psiquiatria, neurocirurgia) na abordagem terapêutica do doente com Parkinson.


P. - Parece que se estão dando as condições para que no tratamento da doença de Pakinson seja superado o conceito tradicional de terapêutica sintomática e se aplique o de gestão da qualidade de vida do paciente. Vamos nessa direção?

R. - Os estudos mostram que qualidade de vida do paciente parkinsoniano tem seus limites antes nos fatores não motores que nos motores. Isto deve ser levado em conta na formulação de novas terapêuticas.


P. - Que papel prático exerce a mobilização de portadores e seus familiares – talvez o caso de Michael Fox seja o mais conhecido – para a sensibilização pública em relação à doença de Parkinson?


R. - Em nosso país o movimento associativo dos pacientes e seus familiares tem sido decisivo para sensibilizar a sociedade e a Administração. Não obstante, há que aprofundar o envolvimento de agentes de grande peso social como as fundações e a empresa privada, além da indústria farmacêutica.

Fonte: Neurologia.com
http://www.neurologia.com/sec/entrev.php?clas=6&subclas=&ap=0

Tradutor: Marcilio Dias dos Santos (marciliosegundo@hotmail.com)