08 maio 2008



DEPOIMENTO DE STELA BITTENCOURT
(maio/08)

“Por sugestão do amigo Marcílio, estou fazendo uma espécie de atualização do meu depoimento, uma vez que este ano completo 10 anos de diagnóstico da doença de Parkinson.

Meu diagnóstico foi aos 35 anos e, diferente da maioria das pessoas, não rejeitei a possibilidade de ser pk, pelo contrário, aos primeiros sintomas já tinha certeza de que o diagnóstico seria esse. Talvez por pura intuição

Até quatro anos atrás, por decisão pessoal, não tomei nenhum tipo de medicação. Na verdade eu lia tudo que conseguisse sobre o assunto, e conclui que a medicação na minha idade iria ajudar num primeiro momento, mas depois de alguns anos, não teria mais eficácia e ainda teriam os efeitos colaterais inerentes a quaisquer medicações tomadas por longo período.

Nos primeiros 6 anos sem medicação, experimentei coisas como o Tui Na, Shiatsu, vitamina b2 com abstenção de carne vermelha, Co enzima q10, e coisas do gênero.

Após esse período, iniciei tratamento com Mantidam e Akineton, e assim permaneci até um ano atrás, quando então, já sentindo necessidade de uma medicação mais eficaz, comecei, por orientação médica, a tentar o uso da levodopa.

Quando digo que senti necessidade, me refiro a episódios de voz fraca, tremor persistente, rigidez muscular, dificuldades de grafia e principalmente na marcha.

Somando todos esses sintomas, não demoraram a surgir os primeiros sinais de depressão, coisa que eu imaginava estar imune, pois sempre fui uma pessoa de maior alto astral, e tinha a ilusão de que isso bastaria para me excluir dessa possibilidade.

Foram dias muito difíceis porque, embora como paciente até entendesse o que estava acontecendo com o meu organismo, não encontrava forças para explicar incansavelmente àqueles que estavam a minha volta, como funciona esse furação que transforma sua vida rapidamente. Essa ainda é, ao meu ver, uma das maiores dificuldades do parkinsoniano: Você tem de entender o seu problema, aceitá-lo e, como se isso já não bastasse, ainda tem que repetir constantemente esse processo com terceiros que percebem, mas parece não entender e nem aceitar a sua situação. Isso gera uma sensação de desânimo e impotência que vai te deprimindo. Por outro lado, apesar de ser legal as pessoas demonstrarem preocupação com você, não chega a ser agradável ouvir a toda hora uma “receitinha” infalível para “tremura” ou comentários do tipo “ Porque você não faz isso? Porque não faz aquilo?” “Você está andando torta” “E se vc tentasse andar mais ereta?”...Como se fosse simples assim....Como se só dependesse da sua vontade...

O meu pk , comparado a outros casos, é de evolução lenta, entretanto, de uma forma ou de outra, percebo sua evolução gradativa. Não tenho nenhum outro caso em família e não me enquadro em praticamente nenhuma das mais prováveis causas do pk.

Há três meses iniciei a medicação Duodopa Cr (50 mg carbidopa + 200 mg levodopa), um comprimido pela manhã e meio à noite. Retiramos o Akineton (meu intestino agradeceu) e mantivemos provisoriamente o Mantidam, mas aos poucos vamos retirá-lo também.

Quando digo “vamos”, me refiro à decisão conjunta com o meu médico, que como eu, não é favorável a muita mistura de medicação. Com exceção de alguns distúrbios gástricos, estou me sentindo muito bem.

Sou muito atenta às reações adversas das medicações e fiz vários experimentos antes de decidir pelo Duodopa Cr. Tentei fazer uso do Mirapex, Prolopa, Cronomet e Sinemet, mas no final das contas vi que o meu organismo aceita com mais tranqüilidade o Duodopa mesmo.

Fisicamente estou me sentindo muito bem, e isso ajuda a equilibrar o emocional.

Quando estou com os sintomas estabilizados, como agora, tudo se transforma. Só quem tem essa doença consegue compreender a dimensão disso. Vc acorda bem, dorme bem, tem prazer nas pequenas coisas simples como conversar, escrever, cozinhar, etc...Coisas essas que apesar de simples, quando vc não está bem tornam-se um fardo.

Acho que me alonguei muito nesse papo, mas isso só prova que melhorei, pois antes para digitar uma frase já era um sufoco.

Espero que este depoimento sirva de alguma forma até como parâmetro para outras pessoas com o mesmo problema se avaliarem, assim como faço sempre que leio os papos dos chats e as publicações no blog.

Abraços para todos.”

Fonte: email:
De: Stela Bittencourt (stelanerj@hotmail.com)
Enviada: quinta-feira, 8 de maio de 2008 11:11:39
Para: marcilio dias santos (marciliosegundo@hotmail.com);
depoiment...doc (23,1 KB)

Olá Marcílio,

Como vai vc?

Segue anexo, a atualização do meu depoimento.
Vc achou que eu tinha esquecido???
Eu tardo mas não falho.....rsrsrs
Desculpe-me pela demora, mas o período de entrega de IR, complica um pouco minha vida.
Abraços.