02 outubro 2007

EVOLUÇÃO DA DOENÇA DE PARKINSON
- UMA OPINIÃO -


A Doença de Parkinson (DP) é uma doença complexa, evolutiva e incurável. Caso o portador dependa somente dos medicamentos é, geralmente, incapacitante.
A sintomatologia é extensa mas, alguns sintomas, como a anosmia (perda do olfato); a constipação intestinal; a depressão; as dores nas costas e lombares; e as distonias (câimbras), podem aparecer até dez anos antes do aparecimento dos sintomas motores, que são o tremor, a rigidez e a lentidão.
O tremor é o de repouso, ou seja, para ao se movimentar o membro afetado e reinicia quando para o movimento; a rigidez é resultante de uma falha na atuação dos músculos antagonistas; e a lentidão manifesta-se como bradicinesia (lentidão de movimentos) ou acinesia (ausência de movimentos). A lentidão aparece na mímica facial (que fica menos expressiva); na caligrafia; nas atividades diárias; na postura arqueada, fletida sobre o tronco; na festinação (pequenos passos, que vão acelerando até, eventualmente, cair); na dificuldade de levantar e dar o primeiro passo; e na dificuldade de virar na cama.
Já os sintomas não-motores são: retraimento; depressão; disfunção cognitiva (fluência, capacidade de ordenação temporal de idéias e fatos); déficits visoespaciais e de memória; distúrbios da fala; distúrbios respiratórios; sialorreia (excesso de saliva); seborréia; dificuldades urinárias; constipação intestinal; sudorese; tontura; dificuldade para abrir os olhos; e dores e sensações desconfortáveis.
As discinesias (movimentos involuntários) são o principal efeito colateral dos medicamentos. No início do tratamento a levodopa é efetiva em pequenas doses e seu efeito dura de seis a oito horas. Com a evolução da doença, esse intervalo diminui e é necessário aumentar as doses. Todavia, chega um ponto em que não mais é possível aumentar a medicação, pois aparecem as discinesias. Ocorre um impasse: aumentando-se a medicação, ocorrem as discinesias; diminuindo-a, ocorrem os sintomas da DP. Mas essa é também uma oportunidade para uma boa avaliação do estágio em que se encontra a doença e confirmar o diagnostico (caso ainda persistam dúvidas).
Nessa fase ocorrem também os fenômenos “on/off” e “freezing”. O fenômeno “on/off” consiste em uma alternância entre “ligado”, em que os sintomas da doença estão ausentes, e “desligado”, em que estão presentes. No “freezing” é difícil iniciar a marcha. Curiosamente, porem, é mais fácil correr que andar.
Algumas particularidades da DP, relacionadas à alimentação são dignas de nota. Uma delas é que a proteína tem prioridade sobre a levodopa na absorção pelo aparelho digestivo. Isso é particularmente verdadeiro nas fases avançadas da DP, em que não há células dopaminérgicas disponíveis no cérebro para estocar dopamina metabolizada a partir da levodopa. O portador passa, então a depender da absorção da levodopa em tempo real, ou seja, minuto a minuto. Para saber se esse fenomeno está ocorrendo, experimente fazer uma dieta pobre em proteinas, do levantar até o jantar (ingerindo a proteina de que necessita na ultima refeição do dia), por uma semana. Se diminuirem os sintomas da DP, é hora de pensar a alimentação. Para melhor orientação, consulte um nutricionista. Outra particularidade refere-se ao café, o qual acelera a absorção da levodopa. Meia xícara de café é suficiente. Esse fenomeno parece ser mais efetivo nos estagios iniciais da doença.
Mas, uma vez atingidas as fases avançadas, o que fazer para evitar as incapacitações?
Em minha opinião, a única alternativa atual, após esgotados todos os recursos medicamentosos (é bom lembrar que está chegando ao mercado brasileiro a Rasagilina e o Levodopa em adesivo), é a Operação de Estimulação Profunda (OEP). Essa operação pode resolver o problema ou, pelo menos, propiciar uma diminuição nas dosagens dos medicamentos. No meu caso, a OEP teve por alvo os núcleos sub-talamicos e eliminou o tremor e a rigidez, ficando somente o distúrbio da marcha, que requer doses menores da levodopa.
A OEP é uma operação de baixo risco sendo que a infecção é rara, devido à pouca área cerebral exposta (é realizada através de um pequeno furo). Já o risco de hemorragia é maior devido à grande vascularização do cérebro. Mesmo assim, geralmente é contornável e raramente é impeditiva. Alem disso, é uma OPERAÇÃO NÃO LESIVA E TOTALMENTE REVERSIVEL. O maior problema com a OEP é o custo elevado, que poucos podem pagar. Até mesmo alguns planos de saúde não aceitam arcar com as despesas. Aqui fica evidente o valor de uma estratégia, na qual se contabilize todos os custos (se a OEP diminuir custos, a longo prazo, fica mais facil os planos de saúde financiarem a operação). Alem disso há um “Custo Brasil” embutido: no Brasil o estimulador com os acessórios custa mais que US$ 30,000.00; na Argentina, US$ 20,000.00; e na Alemanha custa US$ 12,000.00. È necessário tentarmos baixar esse preço e conseguir, também, que essa cirurgia seja realizada pelo SUS. Para o governo, que não paga taxas e impostos e que dispôe de toda uma rede hostitalar e um quadro de proficionais de saúde que inclui neurologistas e neurocirurgiões, o custo total da OEP fica bem mais em conta. Afinal, todos nos temos o direito, por lei, de acesso aos medicamentos e a toda a tecnologia disponível para o tratamento dessa doença.



Brasília, 01 de setembro de 2007


Carlos Aníbal Pyles Patto