UM EXEMPLO DE SUPERAÇÃO
Um exemplo de superação
16 DE OUTUBRO DE 2004 — EDIÇÃO Nº 1767
A história de Luiz Lopes Gomes, membro da Comunidade Ideal da RM Araçatuba, é comovente, pois é muito difícil aceitar a convivência com uma doença crônica que vai lentamente reduzindo os movimentos voluntários do corpo. Luiz sempre praticou esportes, tinha uma vida social agitada junto à família e aos amigos, acostumados a vê-lo sorrindo e cantando. Aos 24 anos casou-se com Maria Laurice com quem teve três filhos. A educação tornou-se em suas mãos um importante instrumento de benevolência. Pequenos rabiscos de crianças e jovens, valores de sua cidade, foram moldados pelas mãos precisas do educador. De professor passou a diretor de escola de ensino fundamental, cargo que permaneceu até os cinqüenta anos, quando aposentou-se. Passado o tempo, Luiz iniciou uma batalha contra um mal-estar que o direcionou à solidão e ao isolamento. Começou a sentir dores e tremores nos braços. Consultou vários médicos e não conseguiu chegar a um diagnóstico preciso. Um certo dia, quando caminhava em sua casa, um dos dedos da mão começou a tremer. Sinal que faltava para diagnosticar o Mal de Parkinson.
Ao lado de Maria Laurice, Luiz reconfirma diariamente sua decisão pela vida.
Cenas de uma história real
4 Síndrome — Independentemente da causa da síndrome parkinsoniana, o problema decorre da disfunção de uma área do sistema nervoso central chamada substância negra, que produz a dopamina, fundamental nos mecanismos cerebrais de movimento. Em relação especificamente à doença trata–se de processo degenerativo no qual, por razões não muito claras, células da substância negra degeneram e deixam de produzir dopamina. O Mal de Parkinson é uma patologia que afeta fundamentalmente os mecanismos motores, porém existe uma maior incidência de quadros demenciais em pacientes portadores em relação a indivíduos não portadores.
4 Reação — Luiz sentiu como se o mundo tivesse desabado em sua cabeça ao constatar que era portador da doença. Além dos problemas físicos que limitavam seus movimentos, vários problemas de origem psicológica também o afetaram. Passou a sofrer por depender do auxílio de outros para atos simples como o banho, a higiene pessoal e caminhadas. O medo começou a dominar seus pensamentos. Sentia medo do escuro, de cair ao andar, da impossibilidade de alimentar-se sozinho. A forte dosagem de medicamentos conduziu cada vez mais o aposentado à desesperança e a uma vida monótona, chegando quase ao ponto vegetativo. Nada para ele tinha mais graça, nem a presença dos filhos e netos que tentavam reanimá-lo.
4 Foco de luz — Cansado de sofrer, Luiz resolveu aceitar um convite para participar de uma atividade da BSGI local. De seu cunhado Antônio José Andreata ouviu: “Se você praticar esses ensinamentos de Nitiren Daishonin com fé, sua vida irá melhorar.” Ele aceitou o desafio e foi à reunião. Estava cansado e desiludido, mas ao ouvir alguns relatos de experiência foi despertando sua curiosidade e reacendendo suas esperanças. Dessa forma, iniciou a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo. Inicialmente mantinha uma prática branda. Acreditava que as orações feitas pela esposa e pelos parentes e amigos iriam auxiliar na sua cura. Mas, toda a energia que sua esposa Maria Laurice empenhava na recitação do mantra budista resultou em que ela tomasse uma atitude drástica.
4 Determinação — Após dois meses participando das atividades e vendo o estado de Luiz cada dia pior, Maria Laurice foi enérgica com o esposo. Perdendo as esperanças ela bateu forte em seu peito e gritou para que ele reagisse à doença e não se entregasse. “Não me recordo perfeitamente do momento, mas recordo-me dela batendo em meu peito como se quisesse me acordar daquele torpor que invadia todo o meu ser. Ela deixou bem claro que ninguém comia ou bebia para satisfazer as necessidades dos outros. Naquele momento chorei muito, pois eu não queria desapontar minha esposa e fiel companheira. Estava dopado e inerte diante de tantos medicamentos. Foi a ação que faltava para que eu me tocasse do fato.”
4 Postura — No dia seguinte, acordou às cinco horas da manhã e sentou-se numa cadeira e vagarosamente começou a recitar Daimoku. “Comecei a recitar baixinho, com dificuldade de articular as palavras, com forte convicção de que seria um vencedor, nunca um vencido.” Luiz fixou sua determinação no Universo e por meio da recitação do mantra budista desafiou voltar a viver com dignidade. Postava as mãos para orar e involuntariamente elas caíam. Foi um dos primeiros desafios, manter sua postura enquanto orava. A mudança de postura, tanto física como mental, foi encaminhando Luiz para novas chances e oportunidades. A primeira foi a indicação de um médico, em uma cidade vizinha, especialista em tratar pacientes com Mal de Parkinson.
4 Dignidade — Em setembro de 2001, Luiz foi apresentado ao médico Marcos Vinícius Semedo. Inicialmente, Luiz relutou em trocar de médico no tratamento, mas após várias recomendações foi conhecê-lo. Na primeira consulta, Semedo apertou a mão de Luiz e disse: “Você vai melhorar 75% porque eu gosto de trabalhar com parkinsoniano. Vou ajudá-lo.” As palavras de Semedo reverberaram na cabeça de Luiz que passou a acreditar numa melhora. Já apresentando resultados positivos como retorno dos novos medicamentos e da recitação diária de Daimoku. “Passei a caminhar mais tempo por dia, ir a academia fazer exercícios. Voltei a fazer os serviços bancários, ir ao supermercado, alimentar-me sozinho como uma pessoa normal.” No dia 25 de novembro de 2001 mais uma vitória em sua vida, Luiz e Maria Laurice consagraram o Gohonzon em sua residência. “Passei a praticar com mais fé e determinação e a estudar o Budismo Nitiren. Fui melhorando a cada dia. Meus colegas e conhecidos me perguntavam o que estava acontecendo comigo, pois não era mais aquele homem doente de antes.”
4 Recomeçar — O tratamento médico e o empenho na recitação de Daimoku fizeram com que Luiz recuperasse seu prazer em viver. Voltou a ler e a escrever e se empenhar em compreender os verdadeiros valores da vida. Uma das conquistas mais recentes de Luiz foi voltar a dirigir seu automóvel. “É indescritível o prazer de recomeçar baseando sua vida numa filosofia que lhe permite compreender os fatos de sua vida e aceitar os desafios. Ao receber a informação de ser portador do Mal de Parkinson pensei em desistir de tudo, pois não poderia conceber ter uma vida limitada e ser dependente dos outros. Como é bom quando somos donos dos nossos próprios atos. Vamos onde desejamos, caminhamos e trabalhamos, passeamos à vontade. Como é gratificante ter liberdade de ir e vir como qualquer outro cidadão. Passei a dar mais valor a tudo, porque senti na pele o que Nitiren Daishonin citou em uma de suas escrituras: “Saber transformar o veneno em remédio.” Consegui transformar o veneno do Mal de Parkinson num grande remédio, que foi provar para mim mesmo e transmitir a outras pessoas que muito podemos fazer por nós, praticando corretamente os ensinos budistas. Eu nasci de novo e com a certeza de que posso ser muito feliz e proporcionar essa mesma felicidade para outras pessoas, principalmente para outros pacientes do Mal de Parkinson.”