Abridores de latas
24 de setembro de 2007 - Em 1812 os soldados britânicos levavam nas mochilas latas de conserva, mas tinham de abri-las com a baioneta; caso não conseguissem, um tiro de fuzil resolvia o problema. Em 1824, o explorador inglês William Parry também as levou na sua viagem ao Ártico. Nelas lia-se a seguinte recomendação: "Corte-se com formão e martelo, ao redor da parte superior".A lata de conserva foi inventada na Inglaterra em 1810 pelo comerciante Peter Durant, no entanto o abridor de latas só foi inventado em 1850 pelo norte-americano Ezra Warner. Era um instrumento rombudo e pesado. Havia o risco de ferir quem as abrisse e, pior, de entornar o conteúdo.
A história parece absurda porém verdadeira. Como foi possível inventar a lata de conserva, tanto tempo antes de se inventar o abridor de latas?
No entanto, ultimamente, as mais confiáveis publicações médicas do mundo andam preocupadas com um fenômeno semelhante que ocorre na produção e divulgação científicas. Existem no mercado muitas " latas" cheias de informações, só que não se pode abri-las com baioneta ou com formão. Deve-se usar um abridor adequado para cada lata e muitas delas albergam conteúdos inapropriados ao consumo.
Editam-se, atualmente, publicações médicas em quantidades oceânicas. Qual o instrumento, qual o critério para se abrir e avaliar a integridade científica dos conteúdos, já que a seleção torna-se imperiosa diante da exigüidade de tempo dos leitores?
Além disso, vivencia-se hoje - e não apenas na área médica - uma verdadeira guerra de informações que necessitam ser criticamente interpretadas, pois nelas se baseiam as decisões clínicas e, em última análise, a saúde e a vida dos pacientes.
Acontece que os textos médicos, freqüentes vezes, estão de tal forma contaminados por implicações econômico-financeiras, que já se realizam simpósios, os quais ensinam como valorizar os referidos textos ou como separar o joio dos interesses econômicos do trigo da genuína informação científica.
As conclusões têm sido preocupantes. Ao se medir a qualidade dos trabalhos (desenho, condução, consistência de resultados e relevância clínica), não ficou claro como isto deva ser feito. Combinações baseadas em evidências, revisões sistemáticas e aleatórias, seria o sistema quase perfeito, mas não há meios de executá-lo em todos os textos.
Não se chegou a um consenso a respeito de qual o melhor método de se avaliar a literatura médica, mas todos concordaram que as conclusões resultantes parecem depender do suporte financeiro dos avaliadores.
Foi também recomendada a realização de revisões que levem em conta a perspectiva dos pacientes, o risco potencial dos tratamentos e os custos financeiros e sociais de certas terapêuticas que vêm e vão, como as roupas da estação.
FRANKLIN CUNHA | Médico
Um comentário:
A propósito das preocupações do Dr. Franklin, penso que nao se deve sofrer por antecipação, pois a encrenca mal começou.
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