05 julho 2007

Vigiai, pois não sabeis nem o dia, nem a hora

Jun 25th, 2007 by Selma

Recebi esse texto de um amigo. É bem provável que todos vocês já o tenham recebido uma ou várias vezes via e-mail, mas mesmo assim resolvi deixá-lo registrado por aqui. Talvez para provocar uma auto-avaliação de alguns comportamentos “infalíveis”, mas a verdade mesmo é para matérializar o medo que tenho dessa triste doença.
O texto é de Roberto Goldkorn, psicólogo e escritor:
“Meu pai está com Alzheimer. Logo ele, que durante toda vida se dizia “o Infalivel”. Logo ele, que um dia, ao tentar me ensinar matémática, disse que as minhas orelhas eram tão grandes que batiam no teto. Logo ele que repetiu, ao longo desses 54 anos de convivência, o nome do músculo do pescoço que aprendeu quando tinha treze anos e que nunca mais esqueceu: externocleidomastóideo.
O diagnóstico médico ainda não é conclusivo, mas, para mim, basta saber que ele esquece o meu nome, mal anda, toma líquidos de canudinho, não consegue terminar uma frase, nem controla mais suas funções fisiológicas, e tem os famosos delírios paranóicos comuns nas demências tipo Alzheimer.
Aliás, fico até mais tranquilo diante do “eu não sei ao certo” dos medicos; prefiro isso ao “estou absolutamente certo de que…”, frase que me dá arrepios.
Há trinta anos, não ouvia sequer uma menção a essa doença maldita. Hoje, precisaria ter o triplo de dedos nas mãos para contar os casos relatados por amigos e clientes em suas famílias. O que está acontecendo? Estamos diante de um surto de Alzheimer? Finalmente nossos hábitos de vida “moderna” estão enviando a conta? O que os pesquisadores sabem de verdade sobre a doença? Qual e o lado oculto dessa manifestacao tao dolorosa? Lendo o material disponível, chega-se a uma conclusão: essa é uma doença extremamente complexa, camaleônica, de muitas faces e ainda carregada de mistérios.
Sabe-se, por exemplo, que há um componente genético. Por outro lado, o Dr. William Grant fez uma pesquisa que complicou um pouco as coisas. Ele comparou a incidência da doença em descendentes de japoneses e de africanos que vivem nos EUA, e com japoneses e nigerianos que ainda vivem em seus respectivos países. Ele encontrou uma incidência da doença da ordem de 4,1 para os descendentes de japoneses que vivem na América, contra apenas 1,8 de japoneses do Japão.
Os afro-americanos vão mais longe: 6,2 desenvolvem a doença, enquanto apenas 1,4 dos nigerianos sao atingidos por ela. Habitos alimentares? Stress das pressões do Primeiro Mundo? Mas o Japao não e Primeiro Mundo? Não tem stress? A alimentação parece ser sem dúvida um elo nessa corrente, e mais ainda o alumínio. Segundo algumas pesquisas, a incidencia de alumínio encontrada nos cérebros de portadores da doença e assustadoramente alta.
Pesquisas feitas na Austrália e em alguns países da Europa mostraram que, em ratos alimentados com uma dieta rica, o sulfato de alumínio (comumente colocado na água potável para matar bactérias) danificou os cérebros dos roedores de forma muito similar a causada nos humanos pelo Alzheimer.
Pesquisas do Dr. Joseph Sobel, da Universidade da California do Sul, mostraram que a incidencia da doença é três vezes maior em pessoas expostas a radiaçãoo elétrica (trabalhadores que ficavam próximos a redes de alta tensão ou a máquinas elétricas).
Mas não param por aí as pesquisas, que apontam a arma em todas as direções.
Porém, a que mais me chocou e me motivou a fazer minhas próprias elucubrações foi o estudo das freiras. Esse estudo, citado no livro A Saúde do Cérebro, do Dr. Robert Goldman, Ed. Campus, foi feito pelo Dr. Snowdon, da Universidade de Kentucky.
Eles estudaram 700 freiras do convento de Notre Dame. Na verdade, eles leram e analisaram as redações autobiográficas que cada freira era obrigada a escrever logo ao entrar na ordem. Isso ocorria quando elas tinham em média 20 anos.
Essas freiras (um dos grupos mais homogêneos possíveis, o que reduz muito as variaveis que deveriam ser controladas) foram examinadas regularmente e seus cérebros investigados após suas mortes.
O que se constatou foi surpreendente. As que melhor se sairam nos testes cognitivos e nas redacoes – em termos de clareza de raciocinio, objetividade, vocabulario, capacidade de expressar suas idéias, mesmo apresentando os acidentes neurológicos típicos do Alzheimer (placas e massas fibrosas de tecido morto) – não desenvolveram a demência caracteristica da doença. Ou seja, elas tinham as mesmas sequelas que as outras freiras com Alzheimer diagnosticado (e que tiveram baixos escores em testes cognitivos e na redacao), mas não os sintomas clássicos, como os do meu pai.
A minha interpretação de tudo isso: não temos muito como controlar todos os fatores de risco apontados como vilões – alimentação, pressao alta, contaminação ambiental, stress, e a genética (por enquanto).
Mas podemos colocar o nosso cérebro para trabalhar. Como? Lendo muito, escrevendo, buscando a clareza das idéias, criando novos circuitos neurais que venham a substituir os afetados pela idade e pela vida “bandida”.
Meu conselho: não sejam infalíveis como o meu pobre pai, não cheguem ao topo nunca, pois dali, so há um caminho: descer. Inventem novos desafios, façam palavras cruzadas, forcem a memória, não só com drogas (não nego a sua eficácia, principalmente as nootrópicas), mas correndo atrás dos vazios e lapsos. Eu não sossego enquanto não lembro do nome de algum velho conhecido, ou de uma localidade onde estive há trinta anos. Leiam e se empenhem em entender o que esta escrito, e aprendam outra língua, mesmo aos sessenta anos.
Não existem estudos provando que o Alzheimer é a molestia preferida dos arrogantes, autoritários e auto-suficientes, mas a minha experiência mostra que pode haver alguma coisa nesse mato.
Coloquem a palavra FELICIDADE no topo da sua lista de prioridades: 7 de cada 10 doentes nunca ligaram para essas “bobagens” e viveram vidas medíocres e infelizes – muitos nem mesmo tinham consciencia disso.
Mantenha-se interessado no mundo, nas pessoas, no futuro. Invente novas receitas, experimente (não gosta de ir para a cozinha? Hum… preocupante.).
Lute, lute sempre, por uma causa, por um ideal, pela felicidade.
Parodiando Maiakovski, que disse “melhor morrer de vodca do que de tédio”, eu digo: melhor morrer lutando o bom combate do que ter a personalidade roubada pelo Alzheimer. E inte, amigos, que eu vou me cuidar. “
Amigos, uma súplica: vigiai pois não sabeis nem o dia, nem a hora…
Carpe diem! Selma

Fonte: IACOBUS

Um comentário:

Hugo disse...

É... é phoda!