28 novembro 2007

Esclarecimentos à Sociedade Civil Brasileira sobre as CTE (células-tronco embrionárias), na visão de um parkinsoniano

Limoeiro do Norte-CE, 27 de Novembro de 2007-11-27

Células-tronco são células com grande capacidade de se transformar em qualquer tecido (muscular nervoso e até ósseo). São células matrizes que geram e que tem alto poder de regeneração (quando fiquei doente, tive calafrios ao escutar a palavra “degenerativa” e agora aparece essa palavra “regenerar”, que soa como música aos meus ouvidos).

Pois bem, as células-tronco embrionárias são as mais potentes. A utilização dessas células segundo alguns, é a destruição de uma vida. O que dizem os cientistas em geral? Dizem que não é vida um arranjo de oito células que irão para o lixo. Exatamente, as células não podem ser utilizadas para salvar vidas, mas, podem ser jogadas “numa lata de lixo ali na esquina”. Se não forem usadas como material de laboratório, as células vão para a lixeira, não existe a menor possibilidade de ser uma vida. Explico: as células embrionárias que se quer pesquisar são restos de material colhido para gravidez artificial, que ficam congeladas e que depois de 3 anos, como obriga a lei, são jogadas fora, descartadas.

Agora vamos a uma outra questão. E o doente que tem uma doença incurável, que além de ser incurável ainda é progressiva, vive sob o horrível peso de não ficar bom e ainda por cima saber que vai piorar sempre, que o caminho é só de ida? Diante desse problema gigantesco, para muitos seres humanos, naturalmente os saudáveis, as células-tronco embrionárias são vidas humanas. Os doentes, como eu, portador da Doença de Parkinson, com 42 anos de idade e depositário de toda sua fé nessas células, não são seres humanos? Nós somos lixo? E as oito células que irão para o lixo são seres humanos?

Não queremos vida de ninguém. Se fosse para matar um ser humano para me curar, seria contra, radicalmente contra, mas não é o caso. Queremos vida, não morte.

Na minha doença conheci a dor, que só os doentes conhecem. As Células-tronco são a minha obsessão, tenho apenas 42 anos e um futuro de muito sofrimento se fosse anos atrás, mas, agora existe a chance de cura.

No começo de dezembro de 2007, os magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF) vão julgar a lei que autoriza a realização no país de pesquisa com células-tronco embrionárias. A avançada lei foi aprovada pelo Congresso Nacional por placar estrondoso: 96% dos senadores e 85% dos deputados federais deram-lhe a vitória. O presidente Luís Inácio Lula da Silva fez o mesmo. Rapidamente a sancionou. Só que ela parou no STF porque o subprocurador-geral da República, Cláudio Fonteles, alegou que é inconstitucional.

Senhores magistrados, quando forem julgar a lei que autoriza a realização no país de pesquisa com células-tronco embrionárias, olhem no rosto de seus filhos, pensem na dor dos hospitais, pensem no ser humano, não o das estatísticas, os reais. Pensem que há pessoas que precisam de uma coisa que vocês podem lhes dar.

Nós, doentes, não queremos pena, queremos ferramentas que possam fazer-nos homens, que podem lutar. Homens com esperança. Não me digam que não posso sonhar. Me matem, mas nunca me digam que não posso sonhar. Arranquem minha cabeça, mas não me digam que não posso reagir, porque é ainda melhor morrer lutando, que se entregar.

Termino com uma frase que cito: ”O jogo só termina quando acaba. O meu ainda está no primeiro tempo e perco por 1 x 0”.
Meu nome é Edgar Ferreira, tenho 42 anos, brasileiro, residente em Limoeiro do Norte-CE, casado, pai de 3 filhos menores, portador da Doença de Parkinson há 5 anos e que tem nas pesquisas com células-tronco embrionárias uma esperança enorme.
É a possibilidade de cura.

Edgar Ferreira

23 novembro 2007

A TENTATIVA DE SUICÍDIO DE MARC BERGERON

”Quero dar-lhes notícias, mas serei breve pois estou muito cansado. Eu que queria denunciar o fato de médicos, farmacêuticos e fabricantes de remédios não terem nenhuma obrigação de reparar os danos provocados, após terem vendido (com altos lucros) ou prescrito medicamentos que destruíram vidas... FUI APANHADO PELO MEU PRÓPRIO JOGO:


Algumas pessoas que se preocuparam comigo acabaram contribuindo para que eu fosse visitado por dois policiais domingo de manhã. Acontece que pelas leis do Canada o suicídio é um ato ilegal e punível. Por essa razão fui forçado a baixar o hospital para uma avaliação psiquiátrica, medida a qual me submeti de boa fé... Isto permitiria-me descobrir novas lacunas jurídicas no tratamento justo e eqüitativo dos pacientes necessitados de cuidados especiais.


Não me preveni contra a atitude daqueles que me atendiam: encontrei um psiquiatra (não o que me trata normalmente), que preparou um relatório descrevendo-me como um ser "cujo estado mental representava um perigo potencial para si mesmo e para a sociedade em geral." Manteve-me 48h na emergência psiquiátrica, uma enfermaria onde são internados principalmente os doentes violentos e agitados... Em seguida, após um dia tranqüilo, recebi uma intimação para comparecer perante o tribunal, caso quisesse contestar o relatório e a legislação que confere direito ao hospital de submeter-me à força para fazer o exame e o tratamento; fui tratado como um criminoso perigoso que opunha-se ao procedimento e internado entre pessoas perturbadas...

Este tipo de prática pretende, segundo penso, impedir que os pacientes responsabilizem o hospital no caso de um desenlace trágico, quando o doente volta demasiado rápido para sua casa... Mas me dei bem neste dormitório sem janelas, ambiente ideal para um Parkinsoniano reequilibrar-se.

Renunciei aos meus direitos de contestação para não fazer história e devo ter sido bastante convincente, pois me deixaram partir apenas com a promessa de avisá-los sem falta no caso de aflição ou outro problema...
Enfim em casa, posso descansar um pouco... Ganhar forças e buscar energia para lutar??

Um dia destes nos veremos, nem que seja por um momento.

Obrigado pelas mensagens benevolentes recebidas

Marco,

ainda muito firme, creio...”


Fonte:
Mensagem no fórum
Parkliste.
La liste des parkinsoniens francophones (parkliste@mailman.coles.org.uk)

em nome de
Marc Bergeron (mollob@hotmail.com)
Enviada: quinta-feira, 22 de novembro de 2007 11:09:41

Tradução: Marcilio Dias dos Santos, com auxílio do tradutor online
Babel Fish, da Altavista.

17 novembro 2007

TODAS AS MÃES SÃO IGUAIS

Na crônica “Lembranças”, Manoel Carlos conta que sua mãe, figura meiga e ingênua, quase totalmente incompetente para os afazeres domésticos, era exímia contadora de histórias e envaidecia-se de ser professora e de falar francês.

Embora o famoso autor de novelas, dedicando seu livro à memória da mãe “que andava descalça e vivia olhando o céu”, confesse que chorou de verdade comovido com essas doces lembranças e revendo fotografias, seu relato está longe das fixações de Orhan Pamuk descritas no romance Istambul, talvez a mais completa confissão de amor edipiano de que se tem notícia na literatura.

Minha mulher lendo as crônicas de Manoel Carlos ria sozinha e comentava: “todas as mães são iguais”. Fez-me assim também lembrar a minha que sabia patavina de francês e era ótima costureira, além de dominar a arte do forno e fogão. Cobrava dos filhos notas boas na escola e se eram baixas castigava mandando ler em voz alta para ela, ao som dos motores das Vigorelli e Singer de seu atelier, dezenas de páginas de uma só tirada, sem tropeços, o que nos obrigava a treinar várias horas.

Comecei a aprender francês com Madame Andrietta Lenard, mulher do húngaro Alexander Lenard, misto de médico, poeta e latinista auto-exilado numa comunidade rural do alto vale do Itajaí-açu durante a Segunda Grande Guerra. Depois, com uma senhora brasileira formada nas antigas faculdades de filosofia, ciências e letras, detentora do título de licenciada em letras neolatinas que, segundo se comentava, era a única na cidade. Sempre esqueço do nome dela, mas recordo que sua pedagogia adotava penas que consistiam em copiar frases dezenas de vezes em folhas de papel almaço e apresentá-las na aula seguinte, implicando o descumprimento no aumento da tarefa.

Certa vez resolvi enfrentá-la e quando me dei conta o número de frases chegara a 400. Fui salvo pela intervenção de minha mãe que negociou com a mestra um castigo mais razoável. Resultado: nunca aprendi francês direito.

Meu inglês também é colegial. A professora chamava-se Mrs. Clemens, que chegou à cidade acompanhando a filha nomeada gerente da loja de máquinas de costura Singer. Paciente e atenciosa, tinha a voz afetada e sotaque londrino. Corria um boato que seu nariz fino, um pouco empinado, era devido a uma cirurgia e ao câncer que a acometera ainda jovem. Tenho ainda na estante o livro de gramática importado que nos obrigou a comprar quando ensinava o possessive case. Lembro-me de ter lido no livro de leituras do curso uma lição sobre uma avenida de Londres onde a velocidade mínima era 100 km/h, coisa inconcebível no Brasil na década de 50. Também não aprendi direito o idioma do grande bardo, mas a nobre senhora deve ser inocentada. Colegas o dominaram, como Sadi, Boris, Ivo, Nely, Klaus, Marcos e tantos outros. Quando contei ao Prof. Jake que venho estudando inglês há mais de 50 anos, ele prontamente respondeu, carregando no sotaque escocês: “Me too. I have been studying English since the 1th grade.”



Autores e livros citados:

CARLOS, Manoel. A arte de Reviver (crônicas). Ediouro Publicações, Rio de Janeiro, 2006, p. 165.

PAMUK, Orhan. Stambul – memória e cidade. Cia. das Letras, São Paulo, 2007, p. 86.

LENARD, Alexander. The Valley of the Latin Bear. E. P. Dutton & Co., Inc., New York – 1965.

ALLEN, W. Stannard. Living english structure – practice book for foreign students and key. Longmans, Green and Co. London, 1954.

14 novembro 2007

Troca de email com Vânia, que implantou DBS há poucos dias

Caro Hugo
Obrigada por essas dicas, é muito importante saber o que devo ou nao ,pois agora estamos carregando algo novo em nosso corpo.
Eu vou fazer um pequeno relato sobre minha cirurgia , foi um ano de espera para meu plano aprovar Unimed,mas graças a Deus eles aprovaram e eu pude fazer a cirurgia, com Dr.Nasser aqui no Rio, foi dia 22 de novembro ,passei 3 dias no hospital,no primeiro dia eu me operei foram 7 horas de cirurgia, depois fui para CTI e no outro dia para quarto e finalmente tive alto no terceiro dia..Tive uma recuperação rápida ,meus pontos cicatrizaram só o gerador no peito me incomodava ao dormir , depois de 20 dias é que retirei os pontos e o DBS foi ligado,no dia o programador com meu doutor fizeram varios testes comigo até encontrar a melhor regulagem em que me fizesse parar de tremer e andar sem travar, entrei para consulta tremendo e sem poder andar direito pois estava travada, e para minha alegria sai do consultorio sem tremer andando perfeitamente eu nao pude nem acreditar, parece um sonho , nao sabia que Deus era tao generoso comigo.

Ah, esqueci de falar coloquei dois eletrodos um de cada lado e um gerador, para minha surpresa nao sinto necessidade de remédios pois anteriormente eu tomava levodopa de 2 em2 horas e agora tomo um quarto com meio sifrol treis vzs ao dia , pois ainda nao fui a minha neuro depois de ligado o DBS.
Bom é isso que eu tenho para contar a vc , espero que Deus esteja operando em vc tb ,pois com eu já te falei um dia, Deus nao faz nada pela metade e como pude ver no seu video vc Ja é um vencedor é só olhar para tras e ver sua vitoria .
Um abraço
Vania

Vânia,
eu não traduzi o manual do kinetra, mas em resumo, tens que evitar te aproximar de detectores de metal (portas de banco) e campos magnéticos e/ou eletromagnéticos fortes como alto-falantes, máquinas injetoras de plásticos, extrusoras em geral, transformadores, além de imãs permanentes, incluindo a TOTAL PROIBIÇÃO de ser sumetido à ressonância magnética, que se não cumprida resultará em morte! Minha esposa até mandou fazer uma plaquinha para usar pendurada no pescoço com esta advertência.

Como estás te sentindo?
Me faz um relato, antes e depois, que coloco no blog. Valeu a pena?
[ ]'s
Hugo
----- Original Message -----
From: Vania Candido
To: hugoengel@via-rs.net
Sent: Wednesday, November 14, 2007 1:28 PM

Caro Hugo
como vai ?
Como vc ja sabe eu fiz a cirurgia e fiz a ligaçao do aparelho, parece uma mágica, mas como vc deve saber temos que tomar alguns cuidados apos ligar ,eu recebi um manual só que é tudo em ingles , eu nao consigo traduzir, e ai lembrei de vc se vc poderia me passar por email algumas coisa que eu deveria evitar como portas de bancos ...
Vc poderia fazer isso por mim ?
Abraço
Vania